terça-feira, 24 de março de 2009

Texto para peça de teatro: a verdade absoluta…

E, sentado no penhasco sobranceiro ao mar, pensou e viu:

terra, mar, vida sempre igual, em dias de mágoas diferentes.

O destino assim o quis e assinalou, arbitrariamente, o seu caminhar noutro trilho: o do trabalho, o da consentida resignação mas, ao mesmo tempo, de mal iniciada mas calculada revolta.

Nessa, talvez tarde, quase noite, sempre alheio ao mundo que o forçaram a reter, em nacos de sonhos efémeros, decidiu e, ficou decidido, que a sua vida não seria mais terra, mar, mas sonho, tornado realidade, de menino, depois homem escultor de almas, outras criaturas aladas que desafiavam e venciam todos os ventos e procelas.

Uns pisavam a terra, ele alimentava-se dela; outros bebiam “saborosos néctares" feitos de sorrisos mercenários e de suores de mil suores escravos, e ele bebia, perto da terra, o sal do rosto, sempre o sal da terra.

E, nesse momento de revelação, do finito e do infinito, decidiu que seria outro Deus, émulo do que o obrigaram a conhecer e que, depois, abjurara.

Agora, sentindo-se mais poderoso, porque aprendera, sublimando, e retivera, experimentando, o dom de criar e de destruir, criando; o de amar e de odiar, amando; o de chorar e de sorrir chorando; o de viver e de morrer, vivendo.

Então, sendo um eleito e revelado, abandonou as alfaias escravas, ergueu a cabeça, agora iluminada, compôs a capa do calor e do frio, capa do tempo, em gesto magnânimo de novel príncipe, e partiu a pregar essa nova verdade revelada:

Sou Deus, escrevi nova Bíblia e, tenho para partilhar, um novo Amor.

Aldeia do Meco, 10 de Junho de 1998.
A Feira do Relógio

Nesta feira de sempre,
onde tudo se compra e se julga comprar:
nacos de esperança,
bugigangas, pequenos tesouros,
em planície de asfalto e de lona,
acampamento sem fim.
Turbilhão de vozes,
mar de rostos,
num cheiro de muitos cheiros.
Mas a feira depressa se tornou
num som de sons, num vício,
numa nostalgia e num sonho.
Nesta agora feira de vento,
tudo foi vida, sonho, esperança.
Mas não se comprou o pensamento,
nem o sorriso duma criança.

Lisboa, Maio de 2002
Hoje, voltei a ter tempo
para pensar, pensar sem tempo.
Por caminhos que só eu conheço,
pedaços de infinito,
sobranceiros ao mar,
companheiro de sempre,
já meu irmão.
E tive tempo para pensar ...

Aldeia do Meco, Março de 2002

segunda-feira, 23 de março de 2009

À Aldeia do Meco, sinfonia inacabada…



Terra no fim,
Do fim da Terra.
De gente de fora,
de gentes de dentro,
gente, sempre.
Sombras aladas,
Formigar constante.
Partem com sonhos,
Chegam com esperança.
E, o chegar e partir,
fazem parar o tempo,
nessa terra sem tempo:
que acorda a dormir,
que dorme a acordar
e que vive na areia,
e que vive no mar.
O mar, a terra, o sol e o vento
são o poema do seu viver.

A.A.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009




Alberto Vieira de Ascensão



NATAL DE 2004




O NOSSO PRESÉPIO
































PEQUENA NOTA INTRODUTÓRIA

No ano anterior (2003), assumimos um compromisso – o de “armar”, anualmente, o nosso presépio – de vivência e inspiração do “ Presépio da Madeira “.

Como novidade, resulta a planificação e concretização de um projecto que abrange e procura reconstituir parte do “ambiente “ físico da Palestina, no tempo de Jesus – todo o curso do Rio Jordão.

Aqui deixamos o resultado do nosso trabalho, labor de equipa familiar, cujas tarefas e encargos se distribuíram:

1. Planificação, recolha de figuras, sementeira e tratamento das “searinhas “; texto do presente opúsculo e selecção de imagens: Alberto;
2. Execução da Maqueta e das estruturas, animação do rio, iluminação geral e fotografia: Manuel Jorge;
3. Fotografia e tratamento de imagem: Luna;
4. Montagem do presépio: Maria Manuel, Joana, Luna, Manuel Jorge e Alberto.

O presente opúsculo, como o foi o do ano passado, servirá de memória:

Inclui-se um mapa da Palestina no tempo de Jesus, um quadro cronológico de referência e algumas curiosidades, costumes, “ usanças “ e práticas do Natal.

















I. UM POUCO DE HISTÓRIA
1. O PRESÉPIO


“O Presépio” constitui sempre, uma dramatização simbólica, de profunda significação humana e espiritual.

Vocábulo, de origem latina, significa “ local onde se recolhe o gado”.

“Presépio. Oratorio, que representa um presepe, e ao Minino Deos nascido entre os irracionáes, que nelle se aposentavâo.” (1)

(1) SILVA, Antonio de Morais – Diccionario da lingua portuguesa, 2ª.ed.,Lisboa: imp.Typographia Lacerdina,1813, tomo I, p.497










É, pois, uma representação lúdica da cena do nascimento de Jesus, com todo o enquadramento poético, bucólico e descreve a presença, numa manjedoura, entre uma vaca e um burro, do Deus Menino. Os pais, Maria e José, olham-No, enternecidos. Pastores, anjos e reis (Magos), em acto de adoração e de oferta de presentes, completam essa cena do nascimento.

A São Lucas (século I), apóstolo, médico e, segundo a tradição, pintor é atribuída a autoria do primeiro desenho figurando a cena da Natividade.

O Concílio de Niceia I (325) consagrou a figuração do presépio: a Virgem, S. José, o Menino, o boi, o jumento e os pastores, isto é, a representação plástica do mistério do Natal.

Entretanto, a lenda franciscana atribuía a São Francisco de Assis a realização armada do presépio, no cenário natural (uma gruta) da floresta de Grécio, em 1223,em vez da tradicional celebração do Natal na igreja. Este presépio foi abençoado pelo Papa Onório III.

E eis, mais em pormenor, essa lenda:

Ao lugar concorreu bastante gente, de várias terras e em romaria para tal ver. E quando o próprio São Francisco chegou ao local, e ao pé de todos os que lá estavam, um clarão de luz o iluminou e o milagre divino transformou a imagem de barro que o frade lá tinha posto, representando o Deus Menino, em ser vivo de carne e osso, que sorria bondosamente para todos.

E os forasteiros lhe ofereceram então, em sua graça, tudo o que levavam nos alforges e sacolas, aves, frutos, doces, pães, assim como os animais em que se transportavam e ainda carneiros e mais gado de pastagem que tinham levado consigo, de caminho.

Desta lenda nasceu o estilo da composição, aumentando o número de personagens vivas no milagre de Belém e que eram a Virgem, S. José, o Menino que nasceu, o burro e a vaquinha.

Desde então, começou a divulgar a ideia de criar figuras de barro e que representassem o ambiente do nascimento de Jesus.

Apareceram no presépio, desta forma, os pastores e seus rebanhos, gente do povo humilde, tocadores de sanfona, romeiros, ofertadores de presentes, não faltando os reis magos, um amarelo, o outro branco e preto o último dos reis, mais tudo o que de vivo e natural havia ao de cima da terra.

O Presépio, os pastores e os Reis Magos são referidos nos Evangelhos:

1. O presépio: “ E deu à luz (Maria) seu filho primogénito e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem” (S. Lucas 1, 2. 7.)
2. Os pastores (de Belém): “ Ora havia, naquela mesma comarca, pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho.” (...) “ E foram apressadamente, e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura “ (S. Lucas, 1, 2, 8 e 16).
3. Os anjos: “ E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão de exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo: Glória a Deus nas alturas, paz, na terra, boa vontade para com os homens.” (S. Lucas 1, 2. 13 e 14).
4. Os “Reis “ Magos: “ E tendo nascido Jesus, em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram, do Oriente, a Jerusalém” (Evangelho de S. Mateus 2. 1). “ E, entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram dádivas: ouro, Incenso e mirra” (S. Mateus 2. 11).
Mas, a partir do século II, falava-se apenas em três Magos, com a designação de Reis. Posteriormente, um mosaico bizantino do século IV, identifica-os: Baltazar, Belchior e Gaspar.



2. A PALESTINA NO TEMPO DE JESUS

Os homens, no tempo de Jesus, designavam a Palestina por País de Canãa.

No tempo de Jesus, a Palestina tinha, como espécies dominantes da sua flora, a laranjeira amarga ou cidreira, o cipreste, a azinheira.

Mas as árvores típicas eram os carvalhos e os terebintos “ que se encontravam muitas vezes isolados ou em grupos.” ( 2 )

(2) ROPS, Daniel; SARAIVA, José da Costa, trad. – A Vida quotidiana na Palestina no tempo de Jesus. Lisboa: Livros do Brasil, 1963, p.29

“Carvalhos e terebintos estavam associados à história de Israel: foi à sombra dos carvalhos de Marnhé que Abraão ergueu a sua tenda, após a separação de Lot. Foi, nos ramos dum terebinto, que Absalão ficou preso.”

As alfarrobeiras e as oliveiras bravas eram abundantes e, à volta dos lagos, a tamargueira, os loureiros, as acácias faziam-se, sempre, notar.

Porém, a mais preciosa das plantas cultivadas, “ característica da paisagem palestinense, com a sua folhagem cinzento-cinza que lhe dava e dá um encanto de mistério era a oliveira. (...) crescia em todo o lado. A Bíblia via nela a árvore da saúde, da alegria e da paz” (3).

Surgiam, igualmente, com grande importância, a figueira e a videira: estar à sombra da figueira era sinal de felicidade e de desafogo.

Finalmente, e ao lado dessas três culturas reais (oliveira, figueira, videira) existiam numerosas outras árvores: ameixoeira, macieira, pereira, sicómoro, amendoeira.

(3) ROPS, Daniel; SARAIVA, José da Costa, trad. – A Vida quotidiana na Palestina no tempo de Jesus. Lisboa: Livros do Brasil, 1963, p.29


II. O NATAL NA MADEIRA

Em parte alguma do mundo, o Natal é tão festejado e tão desejado, como na Madeira.

“ A rochinha ou lapinha madeirense, inspirada na própria paisagem, é, a um tempo, ingénua e original: o mesmo presépio das províncias portuguesas, mas diferente de todos eles, com dois Meninos Jesus – o que está na gruta, deitadinho sobre palhas, e outro, mais crescido, vestido de seda, imagem tutelar de todos os lares da ilha, que é colocado, como soberano, no alto da fantasiosa construção. Casinhas, pastores, ovelhas, e as mais variadas figuras criadas pelos barristas populares, todos os presépios têm. Mas a Madeira junta a tudo isso os melhores frutos da época, a verdura dos seus campos e a delicadeza das suas searas. “ (4)

E uma descrição tão viva do presépio madeirense feita, pelo notável poeta, escritor e ensaísta, também madeirense, João Cabral do Nascimento, em 1950, isto é há 54 anos (respeitámos a ortografia):

“ No interior das casas, como nas capelas das igrejas, o presépio está armado e é mais ou menos igual ao dos anos anteriores: reforçam-no apenas alguns novos pastores de barro polícromo ou uma ou outra inovação do progresso: automóveis, que se dirigem para Belém, ao lado de camelos, locomotivas que projectam, pelas chaminés, fumo compacto de algodão branco, belos e complicados transatlânticos ingleses que sulcam oceanos de areia ou de serradura, mesmo aos pés de S. José e da Virgem Maria. O Menino Jesus tem um ar do século XVIII, veste comprida túnica de seda orlada de rendas e, erguendo a mãozita gordalhuda, toca com o dedo num cacho de bananas de loiça, que está na rocha, e que, a despenhar-se, poderia esmagar a um tempo todos os três Reis Magos. Das escarpas fluem águas de vidrilho, entre fetos e avencas naturais, e nos promontórios mais inacessíveis equilibram-se, por milagre, casas de papel, e igrejas de altos campanários amarelos ou vermelhos. Por toda a parte, nos recôncavos da lapa, sobem e descem pastores e pastoras, em cujos ombros se ostentam cabazes com laranjas, anonas, maçãs, galinhas, patos e perus. Há peixes fora de água, indiferentes à circunstância de se encontrarem num elemento que não é o seu, e animais de climas antagónicos, reunidos com tanta naturalidade, como se estivessem na própria arca de Noé. Em baixo, sobre a mesa, rodeando a toalha de linho, corre uma fila de searas dentro de xícaras – trigo, lentilha, centeio, milho, alpista; estão verdes e pujantes, mas as raízes, sem terra para se expandirem, já se entrelaçaram de tal modo que formam como que um bloco duro e redondo. “ (5)

(4) LAMAS, Maria – Arquipélago da Madeira maravilha atlântica. Funchal: Eco do Funchal, 1956, p.383 - 384
(5) NASCIMENTO, João Cabral do – O Natal de há trinta anos. In Das artes e da história da Madeira. Funchal: Academia de Música e Belas Artes da Madeira, 1950, vol. 2, N.º. 4, p. 5 – 7



O presépio, vulgarmente designado por “ lapinha “, designação alusiva à lapa de Belém, onde é figurado o nascimento de Cristo, é um pequeno mundo: pastorinhos, searinhas, o triguinho, ovelhinhas, cabrinhas, casinhas, as escadinhas, a rochinha, as palhinhas, a grutinha, a vaquinha, o burrinho.
Como se constata, o uso dos diminutivos no vocabulário natalício é muito frequente até em grupos culturalmente mais evoluídos. E esses diminutivos significam, para a nossa análise, carinho, ternura, simpatia, graciosidade.
O presépio, começou a generalizar-se e foi introduzido, no continente português, pelas freiras do Salvador, de Lisboa, no ano de 1391. Os primeiros colonos e povoadores continentais trouxeram-no para a Madeira, pouco depois da descoberta e povoamento, a partir de 1420.
Os presépios, na sua especificidade, costumam agrupar-se em três categorias que, segundo Eduardo C. Nunes Pereira (6), são as que passamos a caracterizar:

Presépio simples – formado exclusivamente pela adoração da Sagrada Família, anjos e os dois animais da tradição dos evangelhos;

Presépio com a adoração dos Reis Magos e dos pastores. Os Reis Magos são acompanhados por comitivas e surgem imponentes, trajados de luxo como potentados orientais. Os pastores vão carregados de oferendas, tributo de submissão e piedade;

Presépio misto, de figuração bíblica alusiva ao Nascimento, cenas da Vida de Jesus e representação de cenas do passado e do presente.

O presépio da Madeira é um presépio do tipo misto: na base da “rochinha” abre-se uma gruta em que se representa, figurativamente, o Nascimento de Cristo.

A composição do presépio reflecte toda a história das mentalidades de diversas épocas, com todos os contrastes, assimetrias, contradições. A paisagem acidentada da Ilha é reproduzida com toda a ingenuidade da arte popular: montes e árvores de papel, regatos de algodão, lagos de espelhos.




(6) PEREIRA, Eduardo C. N. – Ilhas de Zargo. 3ª.ed., Funchal: Câmara Municipal do Funchal, 1968, vol.2, p.506



Todas as figuras do presépio, genericamente designadas por pastores, de tamanhos diferentes, vestidas de cores garridas são figurantes de todos os costumes, e de cenas da vida quotidiana: um galo canta, a vaca e a “jumentinha” fazem guarda à manjedoura de Belém e, para lá, se encaminham os Reis Magos.

Mas, “ o nosso presépio não foi sempre a Rochinha. Durante mais dum século se entronizou o Menino Jesus em escadinhas ou pirâmides aos degraus o que ainda é costume generalizado entre os camponeses. De há menos de cinquenta anos para cá é que se generalizou o gosto pelo presépio de rochinha (...) (7).
Porém, parece, que mesmo “antes de introduzido o presépio em Portugal, se usava outro simbolismo, afim da Árvore, para assinalar o nascimento de Cristo. No Regimento dos Sacristãos – Mores da Ordem de Cister de Alcobaça encontra-se esta determinação: “ Nota de como has de poer o ramo de natal, scilicet: em vespera de natal, buscarás huu grande Ramo de loureiro verde, e colherás muitas laranjas vermelhas e poer lhas has metidas pelos ramos que dele procedem spacificadamente segundo já viste. E em cada hua laranja, poeras hua candea. E pendoraras o dicto Ramo per hua corda na polee que há de star acerca da lampada do altar moor.” (8).



















(7) e (8) PEREIRA, Eduardo C. N. – Ilhas de Zargo. 3ª.ed., Funchal: Câmara Municipal do Funchal, 1968, vol.2, p.510






III. O NOSSO PRESÉPIO



Do lado direito, representação simplificada da Palestina no tempo de Jesus, no que tinha de mais significativo do seu “habitat “ natural: o Rio Jordão atravessava-a, desde a nascente até à “foz”, com água cantante (continuamente a correr).

A região norte, representada por um monte, e onde se situa a nascente ou nascentes do rio, era “ uma região silvestre, plena de água a correr entre os loureiros.” (Bíblia).

O rio tem, no seu curso, uma pequena represa que constitui um lago, “rodeado de favais” (O presépio representa esses favais com “searinhas”, de favas, dispostas à frente e à entrada da gruta do presépio, (já no lado esquerdo). A Bíblia refere, este lago, com o nome de Houleh.

O rio continua o seu “caminhar” e chega a outro, agora grande lago, (Mar da Galileia), mais tarde denominado de Tiberíades, em homenagem ao Imperador Tibério. Nas suas margens existem diversas aldeolas brancas.

Figuras de ontem e de hoje, perto das aldeias ou junto do rio, passeiam ou ilustram diversas profissões e cenas do quotidiano do passado e do presente: pastores com oferendas, pastores a guardar o grande rebanho de ovelhas, lavadeiras, padeiros, sapateiros, um aguadeiro, um pescador, uma vendedora de fruta, outra vendedora de galinhas. A “matança” do porco avulta no conjunto; até um cão e um porco se “passeiam” em aldeias.

Um pombal, junto ao monte, com uma pomba, é símbolo de paz e fraternidade. Outro pombal, numa das aldeias e junto ao rio, insinua que há comunicação entre a aldeia e a várzea.
“ DOIS POMBAIS E O MOINHO “

Junto ao rio, está “ plantada “ uma nora e, noutra aldeia, a azenha apoia, moendo, toda a comunidade local.

Na “montanha”, que prolonga o presépio, ergue-se, altaneiro, um moinho – talvez a peça mais antiga de todo o conjunto –.

Outra novidade, no presépio deste ano, é o conjunto constituído por uma igreja à escala, iluminada, e as figuras de uma procissão: figuras de barro, muito antigas, de Estremoz: padres, acólitos, mordomos e anjos.

As casas das aldeias estão todas iluminadas, com soluções “revolucionárias “ introduzidas pelo Manuel Jorge.
.
Para participar no “ arraial “ caminham, dançando, tocadora de pandeireta e tocadores de pífaro, tambor, acordeão e gaita-de-foles.

À frente do presépio, em estrutura própria, ou “implantadas” no próprio ambiente, germinam e crescem as favas, o trigo, o grão-de-bico, o tremoço, com o nome genérico de searas ou searinhas, e que foram semeadas, como já foi referido e conforme a tradição madeirense, no dia 8 de Dezembro.

Algumas casas das aldeias são todas brancas, como o eram as de Nazaré no tempo de Jesus: grandes blocos branqueados pela cal, com poucas aberturas, para além da porta. Paredes-meias, conviviam os homens e o gado; outras, têm, intencionalmente, o seu cunho de modernidade.

Agora, devemos reter a mensagem, trazida pelos anjos, que constitui autêntico ex – libris do Presépio e que o “ ilumina “:

GLORIA IN EXCELSIS DEO



















IV – QUADRO CRONOLÓGICO



- 37 Aparecimento de Herodes, o Grande ( PALESTINA)
- 27 Augusto imperador ( ROMA)

- 6 Nascimento de Jesus

- 4 Morte de Herodes. O seu reino é dividido entre os filhos Arquelau, Antipas e Filipe.
0 Começo da era cristã


(Adaptado do quadro cronológico inserido na obra, A Palestina no Tempo de Jesus)

























V – CURIOSIDADES, COSTUMES, TRADIÇÕES...


ADVENTO

Significa “ que está para vir”. Para os católicos é tempo de espera e de esperança.
Período que corresponde aos 4 domingos, às 4 semanas antes do Natal.
Pode ser de 22 a 28 dias, conforme o ano e o dia da semana em que se verifica o dia 25 de Dezembro.
Há relatos de que o Advento começou a ser vivido entre os séculos IV e VII.
Consideram-se vários símbolos do Advento:

Calendário - Surgiu, na Alemanha, uma tradição familiar que visa especialmente motivar as crianças. Os pais, avós ou outros parentes próximos preparam uma caixinha contendo uma mensagem ou uma pequena lembrança, com o intuito de ajudar as crianças a contar os dias que faltam para o Natal e coordenar a actividade delas e refrear o natural desejo de querer os presentes antes do tempo.

Coroa – A coroa, guirlanda, grinaldas, festões e arranjos com folhagens nasceram com a superstição de que heras, pinheiros, azevinho e outras plantas ofereciam protecção, no inverno, contra bruxas e demónios, por terem folhas.
Mas, a coroa do Advento, é o primeiro anúncio do Natal. Guirlanda, como o próprio nome indica, é feita com ramos verdes, como sinal de esperança, e enfeitada com fitas vermelhas, representando a felicidade. A sua forma (círculo) simboliza a eternidade. ( entre os clássicos a concepção do mundo: do mesmo ao mesmo através do diverso)
Nessa coroa são colocadas 4 velas e, em cada Domingo, é acesa uma até que a quarta seja acesa no quarto Domingo. As 4 velas significam as 4 etapas da salvação.

ANJO

Ocupa espaço na parte superior do Presépio. Representa o Anjo Gabriel, o anjo da Anunciação, que levou a mensagem do nascimento de Jesus a Maria.

ÁRVORE DE NATAL

Sendo uma planta que cresce em sentido vertical, apontando para o “céu”, a árvore é considerada por muitos como “intermediária entre o céu e a terra”.
Só surge no século XVI, por influência do rito praticado na Baixa Idade Média, e simbolizava a árvore do paraíso. As luzes que a adornam, nos nossos dias, simbolizam Cristo, como Luz do Mundo. Só no século XX começou a ser considerada como um dos símbolos do Natal.
A verdadeira árvore é o pinheiro que tem o privilégio de não perder as folhas no inverno.


AZEVINHO

Entre os romanos era trocado como presente. Hoje, tornou-se a principal planta do Natal.

BOLAS COLORIDAS

As bolas coloridas, que adornam a árvore do Natal, pretendem significar os frutos daquela mesma árvore. São os dons maravilhosos que o nascimento nos traz.

CÂNTICOS DO NATAL

A época do Natal está sempre associada a cânticos típicos. As primeiras datam do século IV, sendo a primeira JESUS REFULS IT OMNIUM, de S. Hilary Poitiers.

Depois, as melodias tornam-se mais alegres e, até hoje, a mais famosa é Silent Night, ou Noite Feliz, de Joseph Mohr e Franz Gruber, que foi escrita na Áustria, em 1818.

CARTÕES DE BOAS FESTAS

Surgiram, segundo alguns, em 1843 ou 1845. Foram criados por um artista plástico inglês, por encomenda de Sir Henry Cole. Este, director do Museu Britânico, percebeu que não teria tempo para escrever à mão as felicitações do natal, que eram moda enviar e receber na época; mandou, então, fazer um desenho alusivo ao Natal, com um espaço onde poderia escrever breves palavras.

“CHRISTMAS”

Nos países de língua inglesa, o Natal é designado por “ Christmas “, palavra derivada da expressão inglesa “Christ’s mass”, nome de uma antiga missa, que se celebrava no dia 25 de Dezembro, em comemoração do aniversário do nascimento de Cristo.

CORES

O verde e o vermelho são cores dominantes no Natal. O verde significa renovação, esperança, regeneração. O vermelho está ligado ao fogo e ao poder e, também, ao amor. O dourado está associado ao sol, à luz, à sabedoria.

COROA

Durante os doze dias do Natal, é costume colocar, no lado de fora da porta, uma coroa. Este costume remonta aos romanos que as dependuravam para que todos os habitantes da casa tivessem, no ano seguinte, muita saúde.

DIA DE NATAL – O 25 de Dezembro

A 25 de Dezembro de 274, o imperador romano Lucio Domicio Aureliano, (270 a 275 ) determinou que se celebrassem, no início do solstício do Inverno, as Saturnálias, com grandes festas e banquetes. Estas festividades eram conhecidas como Natal solis invicti (= nascimento do invencível sol).

Inicialmente, comemorava-se o nascimento de Jesus a 5/6 de Janeiro.

O dia 25 de Dezembro, como dia do Natal aparece, pela primeira vez, no calendário de Philocalus, em 324, devido à opção feita pelo Papa Júlio I, para “cristianizar” a grande festa pagã do Sol, que se realizava no mesmo dia 25 de Dezembro, como já se referiu. Agora, designa-se por dia do Natal de Cristo considerado o “Sol da Justiça”.

Na tradição cristã, Jesus nasceu numa gruta ou lapa (na Madeira, lapinha significa, igualmente, presépio).

A partir do século VI, foi permitido aos padres celebrar três missas nessa festa: a primeira chama-se “ da meia – noite “, a segunda “ da aurora “, a terceira “ do dia “. Como o celebrante deve estar em jejum, só comunga na terceira missa. (9)

ESTRELA DO NATAL

È usada no cimo da Árvore de Natal para nos lembrar a estrela de Belém.
Na boa nova do nascimento de Jesus, os evangelistas narram que, no céu, apareceu uma estrela. Os Magos, que vieram do oriente, foram guiados por ela até Belém.
A estrela tem quatro pontas e uma cauda luminosa e essas quatro pontas representam as quatro direcções, Norte, Sul, Leste e Oeste.

(9) Lello Universal. Dicionário enciclopédico luso – brasileiro. em 2 volumes. Porto: Lello e Irmão, 1979, 2 vol. P.321

FIOS DE PRATA

Conta uma lenda que, num determinado tempo e lugar, quando a Árvore de Natal ficou pronta, foi admirada pela família e pelos animais da casa.

As aranhas, que habitavam o celeiro, também quiseram vê-la mas foram impedidas. Durante a noite, quando todos dormiam, elas entraram por debaixo da porta e, não só viram a árvore, como subiram pelos seus ramos.

Ao amanhecer, o Menino Jesus veio abençoar a árvore e, para sua surpresa, viu que esta estava coberta de teias de aranha. Jesus, com os seus dedos milagrosos, tocou nos fios da teia e eles ficaram prateados.

Por isso, hoje é costume ornamentar a árvore com fios prateados.

FOLHAGEM VERDE

Por se manterem verdes em pleno inverno, o azevinho, que simbolizava o flagelo de Cristo o visco e a hera eram tidas como plantas mágicas pelos druidas, antigos sacerdotes dos gauleses e bretões.

FLOR ou PLANTA do NATAL

Euphorbia pulcherrima, flor-de-papagaio ou espírito santo, possui brácteas vermelhas e folhas bem verdes. É decorativa e, por isso, ilustra cartões de Natal. Foi encontrada no México em 1828 e depois introduzida na América Latina. Conta-se que uma humilde camponesa desejava oferecer um presente ao Menino Jesus e não tinha o que dar.

Surge um anjo que lhe sugere que leve uma planta que existia junto à estrada. Feliz, vai entregá-la ao Menino Jesus. As pessoas que assistiam à cena começaram a rir da pobre senhora, que começou a chorar. Suas lágrimas, ao caírem sobre as folhas, tornaram-nas vermelhas, para espanto de todos. A poinsettia ou espírito santo é uma planta que, exposta ao sol, é verde. Se estiver à sombra torna-se vermelha: está demonstrado cientificamente.

LUZES

Cintilam e simbolizam o fogo da vida eterna e saúdam a festa do sol, a vinda de uma nova lua.

As velas, na Árvore de Natal, por serem perigosas, foram substituídas por “luzinhas “ que “piscam” ou não e que decoram, igualmente, as árvores dos jardins e das próprias ruas.






MAGOS

O historiador inglês São Bedas (673 –735 ) foi o primeiro a citar os nomes e a descrever os três Reis Magos.

O “velho” europeu Belchior ou Belchior, com aproximadamente 40 anos, o africano Gaspar, com 30 anos, e o asiático Baltazar, com 15 anos, simbolizavam todas as raças humanas, branca, negra e amarela, isto é, todas as raças da terra que, através deles, puderam homenagear o Menino, agora Rei dos Reis.

Os Magos, montados nos seus camelos, atravessaram grandes desertos, desafiando o sol ardente, a sede e inúmeros perigos, para chegar à Judeia.

Eram, como já foi referido, Magos, isto é astrólogos.

Os presentes que traziam e que ofertaram eram outros tantos símbolos: ouro (como Rei), incenso (como Deus) e mirra (como homem).

MEIAS

A tradição de dependurar meias na lareira tem origem em uma das muitas histórias que envolvem S. Nicolau, o santo que inspirou a figura do Pai Natal.

Naquela época era indispensável que as raparigas que desejavam casar dispusessem de um dote. Nessa região havia três raparigas pobres que, por falta de dote, não conseguiam casar.

São Nicolau soube da triste situação e, secretamente, atirou, pela chaminé da casa da família, três pequenos sacos com moedas de ouro. As moedas caíram dentro das meias das raparigas, que estavam dependuradas a secar.

MISSA DO GALO

A designação, nos países latinos, de Missa do Galo, deriva do facto de, segundo a lenda, a única vez que um galo cantou à meia-noite foi na noite em que Jesus nasceu.

Conhecida também por Missa da Meia – Noite porque, conforme a tradição, Jesus teria nascido à meia – noite.

Para os católicos romanos, o costume de assistir a essa Missa começou no ano 400.

Simboliza, igualmente, a comunicação do nascimento de Jesus.




PAI NATAL

A origem remonta ao bispo Nicolau, que nasceu em 281 e viveu e pontificou na cidade de Myra, Turquia, no século IV. O dia de S. Nicolau era o dia 6 de Dezembro, sendo o patrono das crianças, várias lendas lhe atribuíam o dom de grande generosidade para com as mesmas.
Desde o século XIII e até meados do século XVI era S. Nicolau quem, na noite de 5 para 6 de Dezembro, dava as prendas às crianças.
Desde meados do século XVI esse papel passa a pertencer ao Deus Menino.

A Holanda que continuou com a tradição de S. Nicolau, introduziu-a na América do Norte (Nova Amesterdão).

O criador do Santa – Claus americano foi o escritor W. Irving (1783- 1859).

A imagem que temos, actualmente, é também criação norte-americana e surgiu em 1862. Tornou-se famosa com a grande campanha publicitária da Coca-Cola, em 1931.

PALESTINA

Região da Ásia, entre a Fenícia a Norte, o Mar Morto, a Sul, o Mediterrâneo, a Ocidente e o deserto da Síria a Oriente. A palavra Palestina, quer dizer a Terra dos Filisteus. Chamava-se, também, a Terra de Canãa, a Terra de Israel, a Terra da Promissão e a Terra Santa.

PRESENTES

Os presentes do Natal são uma tradição que tem raízes cristãs, inspiradas na visita dos reis magos, que levaram oferendas ao Menino Jesus.

O costume de colocar presentes junto à Árvore de Natal começou no reinado de Isabel I, de Inglaterra, filha de Henrique VIII, no século XVI. A rainha promovia festas de Natal e recebia muitos presentes. Como na prática era impossível receber directamente todos os presentes que lhe eram dados, adoptou o costume de deixá-las junto a uma grande árvore montada nos jardins do palácio.

PERU DE NATAL

Cristóvão Colombo conheceu o peru quando chegou à América. Ele acreditou ter chegado à Índia por um novo caminho. Por isso, o peru ficou conhecido na Itália como o “ gallo d’India”, na França como “coq d’ Inde” e, na Alemanha, como calecatischerhahn, numa referência a Calcutá.

Pelo seu excelente sabor foi, desde logo, aceite na Europa. Era tão apreciado que se tornou o símbolo de alimento das grandes ocasiões. Tanto ricos como pobres, homens do povo ou aristocratas, juntavam-se, em comemorações, para saborear o peru.

SINOS

Os antigos tinham a superstição de que o barulho das campainhas e sinos afastava os maus espíritos. Agora, significa festa e, o seu toque no Natal, simboliza alegria e júbilo pelo nascimento de Jesus Cristo.

VELAS

Simbolizam Cristo, a luz do mundo. É uma tradição nórdica. De início as famílias fabricavam as suas próprias velas, usando a cera pura fabricada por abelhas, conservando a sua cor natural.





















VI – BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, João Ferreira de, trad. – A Bíblia Sagrada contendo o Velho e Novo Testamento – ed. ver. e corrigida. Lisboa: Sociedade Bíblica de Portugal, 1999

LAMAS, Maria – Arquipélago da Madeira maravilha atlântica. Funchal: Eco do Funchal, 1956

Lello Universal. Dicionário enciclopédico luso – brasileiro. em 2 volumes. Porto: Lello e Irmão, 1979, 2 vol.

NASCIMENTO, João Cabral do – O Natal de há trinta anos. In Das artes e da história da Madeira. Funchal: Academia de Música e Belas Artes da Madeira, 1950, vol. 2, Nº. 4, p. 5 - 7

PEREIRA, Eduardo C. N. – Ilhas de Zargo. 3ª.ed., Funchal: Câmara Municipal do Funchal, 1968

ROPS, Daniel; SARAIVA, José da Costa, trad. – A Vida quotidiana na Palestina no tempo de Jesus. Lisboa: Livros do Brasil, 1963

SILVA, Antonio de Morais – Diccionario da lingua portuguesa, 2ª.ed.,Lisboa: imp.Typographia Lacerdina,1813

TOURNIER, Michel; MARTINHO, Virgílio, trad. – Gaspar, Belchior & Baltasar. Lisboa: D. Quixote, 1984